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sexta-feira, 9 de julho de 2021







                 

                                       Caguei pra Comisão. Verdade, todo borrado, não passa de um zilu. No curralzinho, é macho, também, pudera! Encapuzadas, nos levaram prum lugar,  mas reconheci pelo percurso, um  pedaço de asfalto e logo, chão, uns cinco minutos, uma cancela, pararam para abri-la. Chegamos à casa, uma escada, senti, de cimento, subimos, três degraus. Três pessoas nos esperavam, uma voz feminina, ouvidaa tens, a juíza que determinou nossa prisão. Minha memória auditiva, eles não contavam. Antes, tinham mais pejo. Sessão de tortura, já passaram por isto? Minha filha, talvez mais frágil, ouvia seus gritos, ela, os meus. Cigarros nos braços, na testa, na barriga. Telefones nos ouvidos e o zunido. Uma cuba com água, enterraram minha cara, era suja pelo cheiro e gosto. Não me pergunte quantas vezes, quem vai lembrar? Uma eternidade. Nem pensar mais em vida eterna, é muito para um cristão, meu´rimão. Há um, cristão ou não, em greve de fome, por torturas na prisão. Em que evoluímos? Outra foi bater caçarola e acabou na gaiola. Tempos outros, Batia-se panela por estatus e promoção. Obscuros, agora, como nas veredas do sertão, onde imperava Horácio. O Quinto? Que Quinto, cara? Se fosse engaiolado, talvez não fosse escrever cartas para presos, eles não fariam  nenhum esforço para aprender  a ler e escrever. Terrível, mas lá têm todo o tempo do mundo para estudar. Quem sabe não crie um projeto de alfabetização de detentos. Opa, me esqueci que eles já me fuzilaram. Quem disse que eu contei quantos tiros? Não deu tempo nem de morrer direito.


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